Caixa-preta do BNDES: foco em investimentos contraditórios preocupa segmento
Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil
Gustavo Montezano pediu dois meses para explicar investimentos contraditórios da instituição, mas segmento de energia entende que o banco deveria visar o crescimento do setor
Não é segredo que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é considerado um indutor de projetos de infraestrutura desenvolvidos no país. O setor de energia elétrica, por óbvio, beneficia-se destas medidas: no ano passado, por exemplo, recebeu cerca de R$ 15,8 bilhões dos R$ 69,3 bilhões usados em projetos de infraestrutura do país.
Em julho, o BNDES passou a ser comandado por um novo presidente, após a saída do ex-ministro da Economia Joaquim Levy do cargo. Graduado em Engenharia e Mestre em Finanças, Gustavo Montezano, de 38 anos, assumiu o país e não escondeu que um dos seus objetivos será abrir a “caixa-preta do BNDES”, entre outros, como o de “revolucionar tecnologicamente” a forma de atuação da instituição.
Foco errado
Embora já tenha divulgado em seu site balanços, contratos, ações societárias e investimentos, o presidente Jair Bolsonaro esperava a disponibilização de mais informações da suposta caixa-preta do BNDES, especialmente de empréstimos feitos pela instituição para projetos desenvolvidos na América Latina (e que originaram calotes de pagamentos).
Segundo Montezano, ele não tem uma opinião formada sobre a “caixa-preta do BNDES”. “O que eu estou colocando como objetivo é prazo de dois meses para formar sobre o tema. Espero ser capaz de explicar para a população o que é essa caixa-preta ao final de dois meses. O que vai vir de lá ainda não sei, mas preciso de um tempo para fazer o dever de casa”, declarou em entrevista coletiva.
Representantes do setor elétrico demonstraram, em entrevistas ao Valor Econômico, preocupação que essa devassa possa atrapalhar justamente os investimentos realizados pela instituição no segmento de energia. De 2003 a 2018, a instituição apoiou 635 projetos de geração, transmissão e distribuição de energia, somando R$ 215 bilhões.
Ao contrário do que ocorreu até 2017, um dos focos do BNDES no governo Michel Temer e, aparentemente, na gestão Bolsonaro é de estimular o mercado a financiar a necessária expansão de energia do país – e o mercado de capitais, segundo os representantes do setor, ainda não estaria maduro o suficiente para esta função. O Ministério da Economia, por outro lado, busca dar um “choque de energia barata” no país.
Outros objetivos
Além de abrir a suposta caixa-preta do BNDES, a primeira entrevista coletiva de Montezano deixou claro alguns dos objetivos que devem ser seguidos pela instituição:
– Acelerar a venda de participação acionária especulativa do banco;
– Devolver R$ 126 bilhões ao caixa do governo neste ano;
– Desenvolver um plano trianual com metas e orçamentos;
– Auxiliar o governo em privatizações, concessões, desinvestimentos e na reestruturação financeira;
– Promover uma revolução tecnológica na forma de operação do BNDES.
“Sobre a revolução tecnológica: esse movimento está varrendo, mudando completamente as estruturas empresariais em vigor. E esse movimento de revolução tecnológica está apenas começando no setor público. Dentro de 5, 10, 20 anos a forma do governo interagir com o cidadão, a forma da sociedade fiscalizar a atuação do governo, a forma do organismo estatal oferecer o serviço à população não será como hoje”, disse em seu discurso ao assumir o banco.
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