Desafios do Brasil para o setor elétrico: abrir caminho para investidores estrangeiros
Imagem: José Paulo Lacerda/CNI
Tornar o ambiente mais atrativo e diminuir entraves para investidores estrangeiros é um dos caminhos viáveis para que a infraestrutura do país volte a crescer
Considerado um dos principais financiadores de projetos de infraestrutura do globo, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIBB, sigla em inglês) busca conseguir, de fato, destravar sua atuação no Brasil. Para se ter ideia, o AIBB está concorrendo com o Banco Mundial, como uma das principais instituições financiadoras de obras de infraestrutura – ou seja, um excelente caminho tanto para o poder público quanto para o privado obterem recursos para obras estruturantes, incluindo o setor de energia.
Para tal, no entanto, o país precisa ratificar a sua participação como membro-fundador da instituição. Já existe um Projeto de Decreto Legislativo (1158/18) em andamento na Câmara Federal, que aguarda – apresentado em dezembro de 2018, o PDC passou pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa, mas ainda não foi a plenário.
“Quando o Brasil ratificar sua participação, nós podemos começar imediatamente a financiar projetos privados ou públicos no país, principalmente em infraestrutura para o comércio, como portos, ferrovias e rodovias e em energia renovável”, disse o vice-presidente do AIIB, Joachim Von Amsberg. “Podemos investir no dia seguinte US$ 100 milhões sem nenhum problema, se houver algum projeto interessante”, ressaltou em entrevista ao Valor Econômico.
Desde que começou a operar, em 2016, o banco já financiou aproximadamente 50 projetos, somando US$ 10 bilhões. Por enquanto, os investimentos estão concentrados em países como Turquia, Índia, Indonésia e Paquistão. Segundo Von Amsberg, a ideia é de ampliar os investimentos. Os estrangeiros já estão de olho em diversas nas companhias de energia elétrica dos estados.
Um novo fundo
O setor de energia também conseguiu gerar interesse de um novo fundo de investimento e participações (FIP-IE) Vinci Energia. Com os juros na mínima histórica, a ideia é atrair investidores de diversos portes para participar do mercado de energia, financiando investimentos no setor. Recém-criado, o produto atraiu mais de 5,5 mil investidores e captou R$ 420 milhões.
A ideia é que o fundo seja parceiro em diferentes projetos. Com capital autorizado de R$ 3 bilhões, o fundo tem o plano de atrair grandes players de infraestrutura, como investidores institucionais, seguradoras e potenciais estrangeiros com interesse no setor de energia – de regulação consolidada e com bom viés de retorno no longo prazo.
Solução para momentos sem caixa
Em artigo, o presidente em exercício da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Afonso Ferreira defende que, em um momento no qual os investidores nacionais estão sem confiança, existe a necessidade de melhorar o ambiente para os investidores estrangeiros. De acordo com ele, o estímulo à competitividade – como no caso do gás natural – será benéfico para a redução de custos que, historicamente, atrapalham as indústrias.
“As restrições existentes nos orçamentos públicos, diante de um quadro fiscal deficitário, reforçam a necessidade de aumento da participação privada nos investimentos e na prestação dos serviços de infraestrutura energética”, diz. “É essencial que o setor público aperfeiçoe os marcos legais, regulatórios e tributários para uma promoção da competição e de investimentos na área. Essas iniciativas coordenadas têm o potencial de solucionar alguns dos entraves estruturais ao bom funcionamento da indústria nacional, como a redução do intervencionismo governamental e o elevado preço da energia”, ressalta.
Com menor redução do estado e um setor mais aberto, há tendência de que outros players tenham ainda mais interesse em participar do mercado de energia brasileiro. Confira, em breve, outros artigos sobre os desafios do Brasil no setor elétrico.
Foto: José Paulo Lacerda