15/03/2021

Energia Solar e Térmicas disputam sistemas isolados da Amazônia

Foto: Omer Bozkurt

Estudos indicam que logística de transportar combustíveis para térmicas é custa mais do que propriamente gerar a energia

Há uma disputa entre dois modais distintos para suprir a demanda de energia dos sistemas isolados da Amazônia – fornecimento de energia para o Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Amapá e Mato Grosso, além de Fernando de Noronha. De um lado, os defensores da energia solar, com uma pegada mais ambiental, alinhada aos conceitos de energia limpa. De outro, as térmicas, mais poluentes, mas que são usadas há anos dentro deste cenário.

Mas a pergunta que pode passar pela sua cabeça é: por que os sistemas isolados influenciam na minha vida na cidade grande? A resposta é simples. Esse abastecimento é bancado por todos os consumidores, via a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Em 2021, o orçamento voltado para a conta é de R$ 7,5 bilhões, segundo as estimativas do setor demonstradas pelo jornal O Globo.

Os dados da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) indicam que a CCC em 2021 deve custar 38% dos R$ 19,8 bilhões projetados em subsídios embutidos na conta de luz.

Os leilões

Em abril, deve ser realizado um leilão em 23 sistemas na Região Norte para contratar 97 MW (megawatts). Há um duelo entre os dois modais: no custo de contratação, as térmicas a gás são mais baratas, mas são mais poluentes e enfrentam outro problema na região Norte: o custo logístico de transportar diesel, o que, em muitos casos, exige carregar o combustível por barcas ao longo de rios. Em muitos casos, usa-se combustível devido à falta de infraestrutura para o gás.

A Empresa de Pesquisa Energética teria admitido, segundo a Folha de S. Paulo, que a geração a diesel é “ineficiente e poluente”. De acordo com o jornal, gasta-se mais combustível para transportá-lo em longas distâncias do que propriamente para produzir energia. Em 2019, o gasto que a emissão de geradores em regiões isoladas foi equivalente a de Recife, aproximadamente 2,87 milhões de CO2.

Combustível ou renováveis?

Ainda assim, o custo no leilão do combustível é mais barato do que os modais eólico ou solar. Em uma carta com a participação do Engenheiro Eletricista Donato da Silva Filho, que é consultor do Fórum de Energias Renováveis, ele faz críticas à redação do leilão, afirmando que se trata de “grande oportunidade de aceleração no processo de transição da matriz energética na Amazônia, dando espaço às energias renováveis e eliminando gradativamente o uso de combustíveis altamente poluentes, além de reduzir a CCC, que é a Conta de Consumo de Combustíveis”, diz o documento.

“Se as regras forem mudadas, o Leilão propiciará a implantação de projetos demonstrativos da viabilidade tecnológica, econômica e ambiental de soluções híbridas, baseadas nas energias renováveis, integradas ao armazenamento eletroquímico em 23 localidades de cinco estados da região Norte do Brasil: Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, requerendo dos empreendimentos uma potência total de quase 97 MW”, explica o consultor, alegando que os projetos podem mostrar a viabilidade das renováveis, citando a redução no preço das baterias, que seria acelerado com o seu uso na Amazônia.

Outra sugestão é ampliar este prazo de uso de 15 para 25 anos, o que daria mais tempo para os investimentos em renováveis se pagarem – ao contrário de tecnologias mais estabelecidas, como térmicas a diesel e a gás. O documento questiona o fato de o edital não se referir ao estado de conservação dos equipamentos: as renováveis devem trazer dispositivos novos, enquanto as demais podem ser reaproveitadas.

Para tal, a ideia seria que, em cada lote, houvesse uma competição entre os modais renováveis, respeitando os limites de preço estabelecido pelo edital para os sistemas isolados da Amazônia. “Somente se as soluções renováveis não conseguirem suprir a necessidade de potência e energia do Lote é que haveria o leilão para as usinas não renováveis”, afirma. Isso é viável, especialmente quando há empresas dispostas a investir, como mostramos neste artigo.

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