9/11/2021

Qual a diferença entre a situação atual e a crise energética de 2001?

Qual a diferença entre a situação atual e a crise energética de 2001?

Crédito: Pexels

Apesar de semelhantes pela baixa dos reservatórios de água, país era mais dependente das hidrelétricas há 20 anos

É inegável a comparação entre a situação de “emergência hídrica” decretada pelo governo pela primeira vez em 111 anos em 2021 com o racionamento de energia vivido em 2001. Conhecida como a “Crise do Apagão”, o período foi marcado pelo racionamento de energia que afetou as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Os apagões se iniciaram em 17 de maio e duraram 9 meses, entrando em 2002.

Na época, os momentos de apagão tinham redução da iluminação pública, além de proibições de atividades esportivas, shows, festas e exposições. No entanto, houve manutenção do abastecimento para as áreas essenciais, como hospitais e delegacias. O governo chegou a premiar cidadãos que conseguissem reduzir as suas contas de energia e punir com cortes aqueles que não atingiam os objetivos.

A ideia era que fosse diminuído em 20% o consumo de modo a evitar o colapso de abastecimento. Para se ter ideia da envergadura da crise energética de 2001, o governo de Fernando Henrique Cardoso chegou a criar o “Ministério do Apagão”, com o único propósito de coordenar esta situação.

Por que aconteceu a crise energética de 2001 ou a “crise do apagão”?

Embora haja algumas semelhanças com o momento atual, especialmente em relação ao volume de água nos reservatórios e à falta de chuvas, os motivos foram distintos. Em 2001, os reservatórios chegaram a 29,9% de sua capacidade – atualmente, estão em seu pior nível desde então, com cerca de 33%, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Mas, ao contrário do que acontece nos dias de hoje, o país não contava com uma estrutura capaz de suprir a demanda de energia, como as termelétricas, parques eólicos e solares. Ou seja, era preciso encarar a falta de água apenas com a energia das hidrelétricas, o que tornou necessária a realização dos apagões programados e coordenados pelo governo.

Em suma, apesar da falta de chuvas, o Brasil não estava preparado para enfrentar um período de estiagem mais longo. Duas décadas depois, o Brasil aprendeu com o erro e fez investimentos no setor elétrico de maneira a diversificar os modais energéticos. Há duas décadas, a matriz energética brasileira era quase 90% hidrelétrica. Atualmente, as águas respondem por 63% da capacidade total – índice elevado, mas mais simples de ser contornado.

Algumas medidas adotadas pelo governo para evitar problemas mais graves:

As diferenças da matriz energética e das linhas de transmissão

No comparativo entre 2001 e 2021, a energia térmica saltou de 14% da matriz para quase 25%. Apesar de ser mais cara e mais danosa ao meio ambiente, as termelétricas são consideradas seguras do ponto de vista de abastecimento e têm um papel fundamental de suprir as lacunas de fornecimento das energias intermitentes. Em 2001, as energias eólica e solar representavam 0% da matriz e, hoje, respectivamente, são responsáveis por 11% e 2,2% da energia do país.

Além disso, houve expansão das redes de distribuição e há a possibilidade para manejar a energia dentro do Sistema Interligado Nacional (SIN) – um dos poucos locais ainda não conectados é o Amapá, que, no ano passado, sofreu com a falta de energia.

Mas qual a relação da melhor infraestrutura com a crise energética de 2001? Dentro do SIN, é possível remanejar energia, de forma a suprir lacunas de abastecimento. Em 2001, o país tinha cerca de 70 mil kms de linhas de transmissão, número que foi mais do que dobrado ao longo das últimas duas décadas, atingindo 165 mil kms. Dessa forma, é possível garantir o fornecimento de energia em uma integração mais inteligente entre os diferentes modais.

Como as energias eólica e solar não produzem em 100% do tempo, essa infraestrutura garante o seu uso nos momentos de produção, mas consegue recorrer às hidrelétricas, térmicas ou nucleares nos períodos de intermitência. Essa possibilidade garante que o recurso da água seja usado apenas nos momentos mais necessários.

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Custo da crise energética de 2001

Uma das preocupações com a atual situação está na economia do país. Há uma forte correlação entre a demanda de energia e a capacidade produtiva de uma nação. Em 2009, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu um relatório sobre o impacto do racionamento de energia sobre o país naquele momento. Entre as suas conclusões, estavam:

– O custo direto da crise foi de R$ 45,2 bilhões, o que permitiria construir, à época, 6 usinas hidrelétricas.

– 60% do custo foi absorvido pelos usuários, com o aumento de repasse tarifário; o tesouro nacional arcou com o restante das despesas.

“Se considerarmos os custos indiretos, incorridos em sua consequência, como redução de atividade econômica, registrada pela diminuição do PIB, aumento do desemprego, perda de competitividade em razão do aumento de custo da energia elétrica, diminuição do ritmo de arrecadação de tributos, desestímulo ao investimento, imagem do Brasil no exterior, entre outras consequências negativas, chega-se a prejuízo superior”, disse o TCU, conforme matéria do G1 à época.

O impacto na economia atualmente

A situação vivida em 2001 se mostra preocupante, especialmente pelo contexto atual do país. Saindo de um ano de 2020 com um impacto da Covid-19 sobre a economia, 2021 é visto como um momento de retomada para a economia, influenciando no aumento da produtividade e, como consequência, na queda da taxa de desemprego.

Embora especialistas não vejam a necessidade de racionamento por ora, o valor da energia será mais caro – com a bandeira no patamar 2 — e, por se tratar de um custo fixo para a maioria dos negócios do país, há dificuldades para contorná-lo. Nesse quesito, as dificuldades de abastecimento energético decorrentes da crise hidráulica surgem em um momento de vulnerabilidade da economia.

Ao mesmo tempo, o próprio governo estava se movimentando, assim como entidades setoriais, para reduzir o valor da energia. No entanto, este empurrão para o setor produtivo deve ficar para um segundo momento.

Em uma pesquisa realizada com empresários conduzida pela CNI, nove em cada dez empresários se mostram preocupados com a crise hídrica e suas consequências. Entre os maiores temores, destaque para: aumento do custo de energia, com 83%; racionamento (63%) e a interrupções no fornecimento (61%). Para 52% dos empresários, a crise hídrica vai afetar a competitividade dos seus negócios, por isso investimentos em eficiência energética, autogeração, geração distribuída e tratamento e reuso de água estão sendo muito cogitados.

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