Risco de calote gera temor no Mercado Livre de Energia
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Comercializadoras não foram capazes de prever aumento dos custos do setor, tendo dificuldades em honrar acordos assinados com as empresas
A elevação de custos recente do segmento de energia está criando uma série de dificuldades, inclusive para os seus próprios players. Via de regra, a abordagem comum está em mostrar o impacto sobre os consumidores, mas o preço da energia também já está refletindo no dia a dia das comercializadoras. Esse aspecto se torna ainda mais preocupante nas negociações firmadas no Mercado Livre de energia.
Ao mesmo tempo em que as empresas buscam negociações antecipadas via Mercado Livre visando reduzir e ter previsibilidade de custos, as distribuidoras e comercializadoras também fazem suas apostas e estão tendo dificuldades para arcar com os compromissos. As comercializadoras operam como intermediárias, comprando contratos de eletricidade para vender aos grandes consumidores.
Os compradores e os intermediários negociam contratos, contando com a oscilação de preços em função da demanda, das fontes energéticas e de outros aspectos. Ao fim de cada mês, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica calcula os custos e liquida os contratos. Atualmente, a CCEE tem 443 empresas autorizadas a operar como comercializadoras.
Caso não consiga entregar o prometido, as distribuidoras e comercializadoras precisam recorrer ao mercado e bancar o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) – neste artigo, explicamos o funcionamento do PLD Horário. Ou seja, caso tenham feito contratos a preços menores, precisam arcar com essa diferença de custos na hora da entrega.
Em recuperação judicial: um risco para todos
Em matéria recente, a Folha de S. Paulo mostrou que a Argon Energias pediu recuperação judicial no início de agosto, mesmo tendo contratos na ordem de R$ 110 milhões. O motivo? “Dificuldades para comprar os volumes que se comprometeu a entregar diante da disparada dos preços provocada pela crise hídrica”, cita o texto da matéria.
Vale ressaltar que as negociações via Mercado Livre de energia são realizadas entre as distribuidoras e os clientes. A ideia é que ambas as partes estabeleçam certos parâmetros no cumprimento de suas obrigações, seja as regras de fornecimento ou no pagamento. Os grandes consumidores precisam ter cuidados, em especial no perfil de consumo, cronograma de adequação de cabine e vigência contratual, conforme as dicas do blog.
O que a matéria da Folha de S. Paulo aponta, porém, é uma nova preocupação sob a ótica de um player do setor de energia. A Argon Energias foi a primeira companhia do segmento a recorrer à recuperação judicial, mas outros compradores de energia já se preocupam com a possibilidade de que as comercializadoras não consigam honrar os seus contratos.
O que aconteceu na prática com as comercializadoras?
Assim como as empresas, as distribuidoras e comercializadoras fazem análises nas quais estimam os custos do setor e quanto poderão cobrar. Como o valor da energia subiu acima do planejado por essas companhias em razão da crise hídrica e do acionamento das usinas termelétricas, elas sentem dificuldades em arcar com os seus compromissos devido à diferença entre os valores negociados e o preço atual.
E a tendência de futuro coloca essas empresas ainda mais contra a parede: as estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam para um aumento de 16,68% no valor da energia em 2022. Isso acende um sinal de alerta em relação ao cumprimento de contratos.Ao mesmo tempo, há cada vez mais empresas ingressando no mercado livre.
Os dados da CCEE mostram que, em julho de 2021, foram registrados 9.463 consumidores autorizados, aumento de 19% em comparação ao mesmo período de 2020. Em 2019, a CCEE desenvolveu uma proposta visando trazer segurança financeira às negociações realizadas no mercado livre, o que parece ser necessário neste momento de aumento do valor da energia.