O que se sabe sobre o apagão que afetou o Brasil?
Evento registrado em 15 de agosto se iniciou no Ceará e afetou o fornecimento de energia em 27% do país, em especial nas regiões Norte e Nordeste, mas teve repercussões nacionais
Um apagão interrompeu o fornecimento de energia em 27% do país no meio de agosto, o que representa 29 milhões de unidades consumidoras. O evento não teve qualquer relação com a falta de energia, como já foi registrado em outros momentos do país, como o racionamento de 2021 ou até mesmo a crise hídrica vivida em 2021.
Por volta das 8h30 de 15 de agosto, uma interrupção de 19 mil MW dos 73 MW atendidos naquele momento foi registrada. Isso representa mais de um quarto da energia disponível no país, segundo relatório inicial divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico. O sistema só foi totalmente recomposto às 14h49, conforme a Aneel.
A falha em uma linha de transmissão do Ceará, entre Quixadá e Fortaleza, resultou na separação dos subsistemas Norte e Nordeste do Sul e Sudeste/Centro-Oeste dentro do Sistema Integrado Nacional (SIN).
Em teoria, há um sistema de proteção que desliga a linha para evitar outras sobrecargas, mas ele não funcionou. Com isso, o incidente teve repercussões de ordem nacional: afetou 25 estados e o Distrito Federal.
Como é possível perceber no mapa disponibilizado pelo ONS, o impacto foi mais sentido nas regiões Norte e Nordeste, mas atingiu todos os estados:
A Aneel alegou que a interrupção em pontos do Sul e Sudeste/Centro-Oeste visou “evitar a propagação da ocorrência”.
Vale lembrar que a situação registrada neste ano não tem relação com o apagão que houve no Amapá, em 2020. O estado, aliás, é considerado um sistema isolado, cujo abastecimento não segue as mesmas regras do SIN.
Por que este apagão preocupa?
A existência de um Sistema Interligado Nacional visa permitir a transferência de energia entre os subsistemas, explorando as características de geração hidrelétrica, termelétrica e eólica, assim como a capacidade das bacias hidrográficas. O propósito principal do SIN é garantir segurança energética e economia no abastecimento de energia do país.
Cada tipo de geração energética tem uma característica:
– A maior parte do fornecimento decorre das hidrelétricas, a principal matriz energética do país. Os relatórios do ONS mostram boas condições dos reservatórios no mês de setembro.
– As usinas térmicas dão a segurança necessária ao SIN, sendo acionadas quando há más condições hídricas ou em eventuais demandas pontuais – especialmente por serem mais caras.
– A geração hídrica e térmica passou a ter a companhia das usinas eólicas. Estes empreendimentos, porém, têm a característica da intermitência por dependerem das condições dos ventos. Apesar de sua peculiaridade, são uma das bases do SIN.
Uma matéria da Folha de S. Paulo sugere que alguns geradores transmitiram informações incorretas ao ONS, o que teria comprometido o planejamento e a operação do sistema.
Cada vez mais, o planejamento e a operação do sistema dependem de informações precisas para estruturar o sistema para as demandas e fazer remanejamentos das fontes energéticas.
Portanto, a maior preocupação gerada com este apagão não tem a ver com falta de investimentos ou dificuldade para suprir a demanda de energia, mas, sim, de uma ocorrência de grande porte que não foi remediada da maneira adequada. O SIN existe e é operado justamente para evitar este tipo de situação.
Embora tenha divulgado um relatório inicial a respeito do incidente, o ONS tem até 45 dias úteis para emitir um relatório completo a respeito do incidente – prazo que deve se encerrar no fim de outubro.Fique por dentro de outras notícias e dos termos mais relevantes do mercado de energia no blog da Solfus!