Aumento de chuvas dá sinais de redução de uso das termelétricas
Uma das mais importantes do país, a de Porto de Sergipe, já está operando com 30% de sua capacidade total, conforme acordo entre ONS e Aneel
Foto: Saulo Cruz/ANEEL
O aumento dos índices de chuva em boa parte do país levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a sugerir a redução do despacho daquela usina, “tendo em vista as afluências favoráveis que estavam sendo observadas nas bacias hidrográficas localizadas nas regiões Norte e Nordeste”, que podem chegar a 117% de sua capacidade.
A entidade confirmou em seu site que enviou a Carta nº 0087/2022 à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para formalizar a negociação com a usina de Porto de Sergipe, uma das plantas térmicas com maior capacidade produtiva em operação no país. A Aneel autorizou que haja diminuição da contratação de energia dessa planta, que usa Gás Natural Liquefeito (GNL).
O pedido da ONS é um indício positivo para o sistema energético brasileiro, já que mostra um aumento da confiança na produção pela força das águas e outros modais mais baratos. A usina estava operando a plena capacidade (1.500 MW) e sua interrupção estava programada para o início de março, mas, desde 14 de janeiro, a planta atua com cerca de 30% de sua capacidade total.
Conforme O Globo, o custo da usina Porto de Sergipe é de R$ 12,6 milhões ao dia, ou R$ 378 milhões por mês. Essa troca de modais, porém, precisa ser feita com responsabilidade para manter a segurança energética e preservar o nível dos reservatórios de água.
Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico apontam cenário positivo para o armazenamento de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas nos subsistemas Norte, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste para o fim de fevereiro. De acordo com o Programa Mensal de Operação, os percentuais previstos indicam volumes em 97,4% no Norte; 82,8% no Nordeste; 58,4%, no Sudeste/Centro-Oeste; e 32,9% no Sul.
As informações do ONS indicam que, ao fim do mês, apenas a região Sul terá um índice inferior em fevereiro ao inicial. “Os resultados desta revisão contemplam cenários de afluências visando melhor representar a ocorrência de precipitação e, consequentemente, seus efeitos sobre as afluências e armazenamentos”, diz a entidade.
O que isso significa para o consumidor?
De forma objetiva, a diminuição de uso da energia oriunda das termelétricas e o maior uso das hidrelétricas é benéfico para o consumidor. As usinas térmicas são mais caras, conforme explicamos neste artigo do blog.
O próprio ONS explica a situação atual: “A UTE Porto de Sergipe concorre com as usinas hidrelétricas, termelétricas, eólicas e fotovoltaicas localizadas no Norte e Nordeste pela capacidade de transferência energética dessas regiões para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, diz a entidade.
O aumento das chuvas em níveis acima das médicas históricas propiciou até mesmo um esgotamento da capacidade de intercâmbio entre os subsistemas. “Com a redução do despacho de UTE Porto de Sergipe, nos momentos em que essa capacidade estaria sendo atingida, abre-se espaço para maior aproveitamento das demais fontes, de menor custo ao consumidor”, segue o ONS.
As mudanças, porém, não são imediatas. O despacho para a quantia de energia adquirida é feito com 60 dias de antecedência, já que as termelétricas compram o combustível de forma antecipada. Outra boa notícia para o consumidor é o fato de o subsistema Sudeste/Centro-Oeste provavelmente ultrapassar 50% do seu volume em julho, permitindo um cenário mais otimista para o setor ao longo do ano e no futuro.
Como já mostramos no blog, um dos principais desafios para o setor neste ano é encarar os constantes aumentos da energia elétrica – que se tornaram uma tônica em 2021. Este novo cenário pode aliviar as projeções de expansão de 20% em 2022 – algo que é esperado por mais de 80% dos brasileiros e interfere no desempenho da economia do país tanto para pessoas físicas quanto para empresas.