Em “emergência hídrica”, as térmicas viram solução mesmo a custo mais caro
Modelos intermitentes, como solar e eólica, não dão a segurança necessária; por ora, não há possibilidade de racionamento de energia
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Uma situação de “tempestade perfeita” afeta o Brasil no quesito abastecimento de energia. Enfrentando baixa nos reservatórios de hidrelétricas desde o segundo semestre do ano passado, o Brasil declarou um estado de emergência hídrica que afeta cinco estados: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná – onde estão as principais bacias hidrográficas para o abastecimento de energia.
Divulgado pelo Sistema Nacional de Meteorologia, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais de forma conjunta, é a primeira vez em 111 anos que o governo emite um alerta para essa situação específica.
Segundo as associações, a necessidade de emissão deste documento se deve à baixa de precipitações nesta região acrescida da possibilidade de manutenção dessa estiagem, no mínimo, até setembro deste ano. E como isso afeta o abastecimento de energia?
Usinas térmicas e a emergência hídrica
A maior fonte para a produção de energia do país é a hidrelétrica, o que agrava as consequências da emergência hídrica. Embora esteja havendo aumento de outros modais, como solar e eólica, esses modelos são intermitentes – ou seja, dependem do sol e do vento, respectivamente.
Para garantir o abastecimento de energia de forma segura, há necessidade de acionar as termelétricas, que são mais caras do que as hidrelétricas. Atualmente, o país conta com quase 3,2 mil usinas térmicas, que correspondem a 25% de toda a potência instalada no país.
Não à toa, na sequência do acionamento destas usinas, há uma repercussão constante no custo da tarifa, com a Aneel estabelecendo uma bandeira vermelha de Patamar 2. Em um momento inicial, o propósito do governo é preservar os reservatórios das hidrelétricas, negando a possibilidade de racionamento.
Confira, abaixo, outras medidas adotadas:
Varredura nas térmicas – O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) solicitou às usinas térmicas um relatório sobre a sua real situação. A ideia é saber qual a capacidade produtiva do país, visando acioná-las para evitar possíveis apagões ou racionamento de energia em situação de emergência hídrica.
Em matéria, o Estadão informa que o ONS pediu um “detalhamento semanal ou diário dos cronogramas de manutenção e operação previstos até 2021”.
Importação de energia – Em outros anos, o Brasil já usou esse expediente, obtendo energia da Argentina e do Uruguai, conforme mostramos neste artigo.
À época, a explicação do governo federal – comandado por outro presidente – foi de que a medida visava preservar os reservatórios de água e evitar o acionamento das térmicas.
Medida Provisória – O governo está preparando uma MP que barra o Ibama e a Agência Nacional das Águas na gestão dos reservatórios das usinas hidrelétricas. O propósito é dar mais poder ao Ministério de Minas e Energia no sentido de garantir a preservação dos reservatórios.
Além disso, o texto da MP deve permitir ao MME mais controle sobre concessionárias do setor elétrico e do segmento de petróleo e gás para assegurar que não haja necessidade de racionamento.
Programa de deslocamento do consumo de energia – Em reuniões com o setor produtivo, o Ministério de Minas e Energia está interessado em adotar medidas que possam contribuir neste momento, atrapalhando o mínimo possível o setor.
Ao longo do mês de junho, houve discussões para adotar um Programa de Deslocamento do Consumo de Energia, visando preservar o insumo no momento de maior demanda (das 18 às 21 horas). A ideia pode contemplar também consumidores residenciais.
Para tal, o governo desenha um formato que privilegia empresas e consumidores que economizem neste período, como descontos na tarifa ou créditos futuros.
Cartilha para orientar a população – A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) lançou cartilha para orientar a população sobre como se comportar neste momento. O documento traz informações sobre os reservatórios, explica a importância das hidrelétricas e compara a situação atual com a de 2001.
Além disso, o documento traz dicas para contribuir, como evitar o desperdício de água, ser racional no uso do ar-condicionado e adotar uma lógica de consumo consciente de energia. É possível acessar a cartilha na íntegra aqui.Confira outras análises sobre o setor de energia no blog.