Eólicas e solares se disseminam pelo país
Com tecnologias atreladas ao dólar, módulos fotovoltaicos instalados e tecnologias eólicas se tornam porto seguro para a economia e ganham espaço também nos ambientes residenciais
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Ao longo dos últimos anos, as energias solar e eólica estão ganhando corpo dentro da matriz energética do país. A luz do sol tem sido muito usada por consumidores residenciais e comerciais na tentativa de reduzir os gastos com a energia, que tiveram aumento acumulado de quase 25% em 2021; a força dos ventos, por outro lado, está se tornando um porto seguro (e mais barato) no período de emergência hídrica vivido pelo país, no qual as hidrelétricas não podem ser usadas a pleno vapor.
No fim de março deste ano, o Brasil ultrapassou os 10 gigawatts (GW) de potência instalada em micro e minigeração distribuída de energia elétrica. É energia suficiente para abastecer uma cidade de 20 milhões de habitantes, com aproximadamente 5 milhões de unidades residenciais. Apesar do enorme potencial ainda existente, é preciso destacar o crescimento da modalidade: em junho de 2019, o país contava com cerca de 1 GW instalados. Em menos de três anos, essa capacidade se multiplicou por 10x.
Somente no primeiro semestre de 2021, o volume de módulos fotovoltaicos instalados atingiu 4,88 MW, o que superou o total de 2020, de 4,76 MW. Os dados são de um estudo conduzido pela Greener. O mercado nacional representou somente 1,8%, o que reforça a necessidade de importação dos sistemas e plataformas usadas para esse objetivo. E o melhor: 79% dos empresários do setor se mostram otimistas com relação ao desempenho do setor no segundo semestre deste ano.
Para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), uma das razões que permitiram esse crescimento foi a promulgação da Resolução Normativa 482/2012, que, entre outros aspectos, estabelece as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e as formas de compensação.
Mais módulos fotovoltaicos instalados: impacto na geração distribuída
Ao fim do primeiro trimestre de 2022, o país somava 922 mil unidades com micro ou minigeração distribuída instalada. Cerca de 1,19 milhão de unidades recebem os créditos da geração — vale lembrar que a instalação sob um mesmo CPF ou CNPJ permite a aplicação em outra unidade.
O crescimento dessa modalidade tem sido exponencial. Ao fim do primeiro semestre de 2021, o país superou as 532 mil unidades consumidoras com módulos fotovoltaicos instalados, representando um aumento de 40% em relação a dezembro de 2020, segundo a pesquisa da Greener. Os dados indicam que 86% da geração está na própria unidade consumidora, enquanto 14% são oriundos de autoconsumo remoto, quando a produção acontece em outro local e é direcionada para outra localidade.
Outro ponto importante está no custo final ao consumidor: em junho de 2016, os módulos fotovoltaicos instalados saíam em média de R$ 35.080 para o residencial, ao passo que, em junho de 2021, estava em R$ 19.520, uma queda de 44% neste período. No setor comercial, os valores saíram de R$ 350 mil para R$ 194 mil, com diminuição também de 44%. Na indústria, a redução foi de 38%: de R$ 5,8 milhões para R$ 3,6 milhões.
Os valores poderiam ser ainda menores, se a tecnologia não estivesse atrelada ao dólar. Com valores representativos, um dos fatores que contribuiu para este aumento foi a maior facilidade para financiar este investimento. Conforme a Greener, 54% das vendas realizadas em 2021 necessitaram de algum tipo de crédito de players do sistema financeiro, especialmente bancos e cooperativas.
“A elevação das tarifas de eletricidade ao longo do ano tem aumentado a atratividade dos projetos fotovoltaicos em todo o país, mesmo diante do cenário de valorização do dólar e de elevação de preços de equipamentos”, diz uma das conclusões da pesquisa. “A classe residencial se destaca no avanço da GD, representando 50% do volume adicionado no primeiro semestre de 2021, ao passo que a classe comercial foi responsável por 29% do montante adicionado”, conclui.
Entre os estados com o maior volume de unidades com módulos fotovoltaicos instalados, aparecem Minas Gerais (149 mil unidades de geração distribuída instalada), São Paulo (148 mil unidades) e Rio Grande do Sul (123 mil unidades), que representam quase 50% do total. Isso demonstra o potencial da modalidade, já que estados com grande capacidade, como os da Região Nordeste, também podem se expandir.
A força dos ventos
No caso da energia eólica, os projetos são mais extensos e não lidam com o consumidor residencial. As informações da Associação Brasileira de Energia Eólica são de que os investimentos no setor permitiram ampliar em quase 11 vezes a sua capacidade na última década. No fim de 2020, era de 17.747 MW frente aos 1.524 MW de 2011. Em 2021, o país já superou os 19 mil MW, chegando a 11% da matriz energética.
Em balanço divulgado no Valor Econômico, a estimativa é que, até o fim de 2024, a capacidade salte para 30.203 MW, um acréscimo 70% em relação a 2020. Um dos investimentos necessários é na capacidade de armazenar essa energia gerada: o uso de baterias ainda não é aplicado aos parques brasileiros e seria um caminho para diminuir a intermitência e aumentar a segurança relacionada à eólica, inclusive diminuindo a necessidade de acionamento das usinas térmicas.
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