30/11/2020

Falta infraestrutura para o gás natural no Brasil

Levantamento mostra que 92% dos municípios não têm estrutura para gás encanado, o que facilitaria a implantação de projetos para o setor, considerado importante na transição do setor energético

Mais de 9 em cada 10 municípios do Brasil (92%) não têm gás encanado, de acordo com levantamento da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). Segundo o levantamento, até mesmo capitais não apresentam qualquer infraestrutura, casos de Brasília, Goiânia, Belém e São Luís. Como as principais cidades dos estados são termômetros, isso demonstra a dificuldade em fazer essa estrutura se estender em todas as regiões e estados.

O principal problema, na opinião da Abegás, é a falta de gasodutos. Uma das ideias seria construir usinas térmicas nos mesmos moldes do sistema elétrico, com distribuição universal, mas isso não está previsto na chamada “Lei do Gás”. Em agosto do ano passado, como mostramos no blog, o governo pretendia dar um “choque de energia barata”, contando com o apoio do gás natural para isso.

O presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, em entrevista destacada no site da entidade, analisa a presença do gás natural com grande importância na transição energética brasileira visando um modal mais limpo, seguindo o exemplo do que fizeram países europeus, da América do Sul e os Estados Unidos. A fonte atende a dois objetivos claros nesta transição: a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa com segurança no fornecimento.

“O gás natural, por suas próprias características, como a mais limpa fonte energética entre os combustíveis de origem fóssil, vem apresentando um papel importantíssimo em boa parte do mundo como base firme de transição para um cenário que tende a ter uma presença maior das chamadas novas fontes renováveis”, diz Salomon.

Para tal, no entanto, é preciso que a infraestrutura esteja adequada a essa necessidade. “Há uma imensa janela de oportunidade para fomentar o consumo de gás natural no Brasil, além de criar demanda firme com a interiorização do gás, criando condições para a expansão da rede de distribuição e até mesmo a atração de novas indústrias interessadas em instalar suas plantas em localidades que não contam com essa opção”, explica Salomon.

Necessidade de vencer barreiras

Em artigo publicado no Valor Econômico e replicado pela Abegás, o vice-presidente e diretor do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti, alega que o mercado de gás natural precisa enfrentar resistências. Isso começa com a completa tramitação da “Lei do Gás”.

Cavalcanti, contudo, diz que a redução de preços buscada pelo governo federal não é instantânea. “Ela depende de ao menos duas questões que não têm recebido a devida atenção dos formuladores de políticas públicas e investidores do setor”, diz. A primeira delas é a reacomodação das forças de mercado, que nunca tiveram competição. E a segunda está ligada à oferta e demanda do gás nos próximos anos.

De acordo com a EPE, somente em 2026 deve haver aumento da oferta – o que deve impedir uma queda nos preços de forma imediata. Outro ponto importante é que, como projetos de infraestrutura levam tempo para serem planejados e implantados, é preciso que haja segurança jurídica e de demanda para que haja real interesse por parte dos investidores, inclusive os estrangeiros, – assim, é claro, como infraestrutura. As incertezas fazem com que o propósito do país de destravar investimentos possa não ser atingido em seu maior potencial. Um dos caminhos para isso é a busca pela ampliação da infraestrutura existente, de modo que novos projetos possam ter a sua distribuição garantida, ainda que inicialmente em grandes centros e com perspectivas de ampliação.

Whatsapp