Fontes renováveis devem ter investimento de R$ 70 bilhões em uma década
Estimativa é da Empresa de Pesquisa Energética, que já fez um planejamento mostrando como esses modais podem ingressar no sistema
Projetos eólicos, solares e de biomassa devem receber investimentos na ordem de R$ 50 a 70 bilhões em uma década, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), divulgados em matéria de O Globo. A expectativa é que esses parques de energia renovável sejam construídos perto dos grandes centros urbanos e de consumo.
Um dos fatores que leva a EPE a projetar esse tipo de aporte está na diminuição do custo das tecnologias (sobretudo solar e eólica), que caíram 60% desde 2015, além de uma maior preocupação com a agenda ambiental e a instabilidade relacionada aos preços da conta de luz. Há, também, a possibilidade de exportar o excedente para os países vizinhos.
Em publicação recente, a EPE desenvolveu estudo visando compreender como deve se dar a integração das fontes renováveis variáveis (FRVs) na matriz elétrica brasileira. Dividido em 5 capítulos, o estudo analisa essa perspectiva sob diversas óticas: tecnologia, extensão da rede, estudos energéticos e elétricos, planejamento de sistemas elétricas, segurança e confiabilidade, entre outras preocupações.
No caso das usinas eólicas, o relatório mostra que o Brasil está entre os principais mercados para o modal, citando o aumento da capacidade instalada. Em 7 anos, ela foi quadruplicada e há a expectativa de chegar a 19 GW até o fim de 2021. Estima-se também que o aumento da capacidade das “fábricas eólicas” vai seguir uma tendência mundial, chegando a contratações de 100 MW nos próximos anos.
Existe a certeza de que a atual infraestrutura supre a demanda de energia até 2024. Mas é preciso pensar no futuro, dentro das exigências percebidas em escala global. A diversificação das fontes – incluindo a resolução de problemas técnicos para as intermitentes – é um dos desafios do Brasil, como mostramos no blog.
Estudo de caso da EPE
A EPE ressalta que, embora não seja um planejamento oficial, este documento fornece informações preciosas para compreender o comportamento futuro do Sistema Interligado Nacional (SIN) com o aumento da presença das FRV. O objetivo é conseguir fazer a composição de uma matriz elétrica que respeito o equilíbrio técnico e econômico – considerando os custos de expansão, de operação e o seu desempenho técnico, dentro das especificidades dos sistemas FRVs, como a intermitência.
A análise leva em conta, sobretudo, as energias eólica e solar fotovoltaica. São os dois principais modais usados, apesar de não poder descartar a participação de outras fontes de energia para mitigar a variabilidade das energias oriundas do vento e da luz do sol. Atualmente, cerca de 41% da capacidade instalada total (128 GW) e 36% da geração total de eletricidade vem desses modais. Cerca de 85% da capacidade total provém de fontes renováveis (incluindo hidrelétricas e biomassa).
“A expansão das FRV não é realizada em substituição a unidades geradoras convencionais. Pelo contrário, a forte inserção de FRV resultante do plano de expansão se dá em complemento a um parque de geração convencional bastante significativo. Portanto, mesmo que a capacidade instalada relativa de FRV aumente, ainda há unidades geradoras convencionais suficientes – especialmente hidrelétricas flexíveis e de resposta rápida – para suportar a integração de grandes quantidades de FRV”, diz o relatório.
O papel das hidrelétricas
As hidrelétricas têm papel fundamental neste planejamento: elas servem para gerenciar a variabilidade das FRV. De acordo com estudo, elas devem ser usadas para reduzir a necessidade das usinas a gás para a reserva de geração.
“As usinas hidrelétricas que participam do Controle Automático de Geração (CAG) devem ser complementadas conforme a necessidade por outras hidrelétricas. Uma vez que os recursos hídricos se esgotem, outras fontes serão necessárias, abrindo espaço para unidades a gás flexíveis e/ou dispositivos de armazenamento de energia”, explicita o relatório.
Em algumas regiões, o maior ingresso de modais intermitentes faz com que haja menos dependência da água, especialmente o Nordeste, onde pode-se evitar a transferência de água do período úmido para o seco em função da geração eólica e solar.
“De fato, os resultados mostraram uma inversão dos custos marginais sazonais em relação ao comportamento histórico. Vale ressaltar também que a complementaridade entre a energia eólica – que aumenta à noite – e a solar permite otimizar o uso das instalações de transmissão”, diz o estudo.