Horário de verão não afeta consumo de energia
Crédito: José Cruz/Agência Brasil
No comparativo entre janeiro de 2020 e 2019, o país consumiu 70 gigawatts médios frente a 73, respectivamente
O ano de 2019 foi marcado pelo primeiro ano sem o horário de verão em três regiões do país: Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A medida foi adotada de forma contínua a partir de 1985, usando o argumento de que uma hora a mais de luz solar no fim da tarde reduziria o consumo de energia. Com a possibilidade de comparação entre o período adotado (entre o fim de 2018 e início de 2019) e da opção por não usá-lo (fim de 2019 e início de 2020), a conclusão do setor elétrico é de que não há mais impacto da medida.
As estimativas de consumo no país no início deste ano, entretanto, não corroboram a lógica dos defensores do horário de verão. Houve menos gasto de energia em janeiro deste ano frente ao mesmo período do ano passado: 70 gigawatts médios contra 73 registrados. Em entrevista a O Globo, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, explicou alguns motivos.
De acordo com Barata, o verão foi mais chuvoso e com temperaturas mais amenas do que em outros anos, reduzindo o uso do ar-condicionado e contribuindo para essa redução na comparação ao ano anterior. Há outros fatores por trás disso, como a fraca retomada econômica – quanto maior a produção do país, maior o consumo de energia.
Apesar dos dados, o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, avalia que o horário de verão ainda gera benefícios para o país. Em seu argumento, ele explica que, mesmo que não gere economia, a medida contribui para evitar desequilíbrios momentâneos entre a oferta e a demanda de energia, o que pode causar os famigerados apagões.
“A demanda de energia elétrica no Brasil tem crescido muito pouco, em razão da crise econômica. Ao mesmo tempo, houve aumento da oferta, com a inauguração de unidades geradoras de energia de diferentes tipos: hidrelétricas, eólicas, solares e termoelétricas. Não há atualmente este risco de apagão. Certamente essa situação de equilíbrio e de conforto explica a decisão do governo de acabar com o horário de verão”, diz Castro.
Indícios de cancelamento
Os indícios do Ministério de Minas e Energia (MME) já mostravam que a medida – daquele tipo “ame ou odeie” – gerava cada vez menos benefícios à população. Em fevereiro do ano passado, o MME fez avaliação da medida e afirmou que “na redução do consumo e da demanda de energia elétrica, contida nos estudos realizados em 2018 (…), mostraram que a adoção do Horário de Verão trouxe resultados próximos da neutralidade para o sistema elétrico”.
Na nota publicada em seu site, o MME deixava em aberto a possibilidade de uma reavaliação desta política para os próximos anos. Dois meses depois, Em abril de 2019, o Ministério de Minas e Energia se pronunciou de forma contrário ao Horário de Verão.
“Considerando as mudanças de hábitos de consumo e da configuração sistêmica do setor elétrico brasileiro, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE solicitou novos estudos sobre os impactos do Horário de Verão para o sistema elétrico”, diz o MME. “Esses estudos indicaram que o Horário de Verão deixou de produzir os resultados para os quais essa política pública foi formulada, perdendo sua razão de ser aplicado sob o ponto de vista do setor elétrico”, destaca.
Em sua opinião, vale retomar o horário de verão no fim de 2020?