Itaú Unibanco e Indusval ingressam no setor de comercialização de energia
Crédito: Memória EBC
Empresas estão de olho no segmento em razão da possibilidade de abertura do setor a partir de resoluções do governo federal e como investimento devido à queda da taxa básica de juros
O setor de comercialização de energia elétrica parece ter entrado no radar dos bancos, caso do Itaú Unibanco e o Indusval. Por meio do Itaú BBA, o grupo criou uma diretoria de comercialização de energia elétrica, enquanto o Indusval foi autorizado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para adquirir o Grupo Matrix, da DXT Commodities.
As instituições financeiras abriram o olho para o segmento, especialmente com os resultados positivos obtidos pelas empresas. Outros players importantes do setor financeiro que já estão operando no setor de energia são o BTG Pactual – desde 2010 – e o Santander Brasil, que abriu uma unidade de comercialização em 2018.
Derivativos
A plataforma eletrônica de negociação de energia BBCE (Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia) deve lançar, em agosto, operações com derivativos, visando atrair o interesse de agentes do setor financeiro. O principal alvo são os bancos e fundos para transações com contratos futuros de eletricidade, segundo a agência Reuters.
A empresa obteve, em meados de junho, autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar no mercado, oferecendo derivativos de energia. Esses contratos podem ser usados para investimentos apostando no comportamento das cotações ou até mesmo como proteção contra a variação dos preços da energia, a exemplo do que ocorre no mercado de commodities ou de petróleo.
A BBCE é sócia de comercializadoras de energia, como Engie, Enel e EDP, e negocia contratos no mercado livre de energia. “O derivativo, o contrato financeiro, abre a porta para que empresas como bancos e fundos, e as próprias comercializadoras, façam operações de hedge sem precisar do mercado físico”, explicou o presidente-executivo do BBCE, Carlos Ratto.
O que são derivativos?
Esses contratos baseiam a maior parte de seu valor de um ativo específico, que pode ser físico (commodities ou ouro) ou financeiro (como ações, taxas de juros). As negociações podem ser realizadas à vista, em contratos a termo, contratos futuros, opções de compra e venda, entre outros.
Em outros setores, os derivativos são negociados sob a forma de contratos padronizados, com a especificação de (quantidade, qualidade, prazos de liquidação). A ideia é proporcionar aos agentes econômicos oportunidades para a realização de operações que viabilizem a transferência de risco das flutuações de preços de ativos e de variáveis macroeconômicas.
Essas operações são registradas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os contratos de derivativos de energia na BBCE devem ser negociados com liquidação contra o preço spot da eletricidade, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), calculado semanalmente pela CCEE. Eles terão liquidação semanal ou mensal, sempre envolvendo energia convencional para entrega no submercado Sudeste e as diferenças entre os contratos e o PLD.
Bom ambiente
Parte do interesse dos bancos está no fato de o governo brasileiro dar sinais de que pretende fazer uma reforma regulatória do setor – que, durante anos, permaneceu praticamente fechado para novos investimentos. O Mercado Livre de Energia aparece como principal fim do propósito dos bancos, visto que nele é possível que grandes consumidores negociem diretamente as cláusulas do negócio com os geradores ou comercializadores.
De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o número de comercializadores de energia no Brasil cresceu 19% entre janeiro e outubro do ano passado. Atualmente, conforme a instituição, são 324 empresas. Além disso, operam atualmente no mercado livre de eletricidade 5,9 mil empresas de menor demanda, os chamados consumidores especiais, além de 919 consumidores livres. O Ministério de Minas e Energia determinou em dezembro que a Aneel e a CCEE devem apresentar até 2022 estudos sobre a abertura do mercado livre a todos consumidores, incluindo residenciais.
O aumento de empresas interessadas no mercado livre de energia se dá também pelos custos do chamado mercado cativo, considerado 10% mais caro no ano passado. Ressalta-se que, para as empresas interessadas em desfrutar deste benefício, é preciso ter a orientação adequada para, de fato, conseguir colher as vantagens do mercado livre, de preferência com uma consultoria especializada, como a oferecida pela Solfus.
Juros baixos
Em entrevista à Reuters, o ex-chefe de análise de companhias de serviços públicos do JP Morgan e do Itaú BBA na América Latina, Marcos Severine afirmou que se trata de uma tendência global e, no caso do Brasil, ganhou impulso com a queda das taxas de juros do país a mínimas históricas.
“Você tinha uma massa de recursos aplicada em títulos públicos, que agora está buscando investimentos mais atraentes. E você tem investidores aceitando riscos mais elevados em busca de um retorno maior. É uma tendência de médio e longo prazos não só bancos, mas também assets (gestoras de recursos) e fundos entrando e operando no mercado de energia”, afirmou.
Investimentos
A presença de novos players pode contribuir para alguns desafios do setor elétrico brasileiro, como a necessidade iminente de investimentos e a entrada de novos interessados em prol da ampliação da concorrência.