As principais tendências em transição energética para o Brasil, segundo a EPE

Instituição elaborou o Plano Nacional de Energia para 2055, no qual desenha cenários energéticos e traz as diretrizes que devem guiar o Brasil nas próximas décadas
(Imagem: Pexels)
A busca por um futuro mais sustentável passa, necessariamente, por uma transformação profunda na forma como produzimos e consumimos energia. E o Brasil, por suas características naturais e matriz energética já majoritariamente renovável, tem um papel estratégico nesse cenário. Mas quais devem ser as principais tendências em transição energética para as próximas décadas?
Este foi o desafio sobre o qual se debruçou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com a apresentação do Plano Nacional de Energia 2055, o PNE 2055. A própria instituição assume que se trata de um trabalho construído sobre incertezas. “Os sistemas energéticos, tanto no âmbito mundial quanto nacional, estão vivenciando transformações que exigem um acompanhamento constante e uma visão ampliada de longo prazo”, afirma a instituição, refletindo sobre este desafio.
Nesse contexto, foram definidas as sete principais tendências em transição energética que devem se consolidar no futuro do Brasil nas próximas três décadas. Confira cada uma delas na sequência deste artigo:
1. Transformação geopolítica da energia
A descarbonização será a espinha dorsal da transição energética. Isso significa reduzir gradualmente a participação de fontes fósseis, como petróleo e carvão, e ampliar o uso de fontes renováveis e limpas, como solar, eólica – inclusive as offshore –, biomassa e hidráulica.
Essa mudança não acontece apenas por questões ambientais. Ela também responde à pressão regulatória internacional, aos compromissos do Brasil com o Acordo de Paris e à necessidade de modernização da infraestrutura energética nacional. Entre os compromissos do país, estão reduzir as emissões em 37% abaixo dos níveis de 2005 até o fim deste ano, 43% até 2030 e obter a neutralidade climática até 2050.
Isso vai fazer com que o eixo geopolítico relacionado à energia se movimente em favor de economias ambientalmente mais responsáveis, abrindo novas oportunidades de negócios.
2. Segurança energética no centro
Os eventos climáticos extremos afetam diretamente o fornecimento de energia. “Períodos de escassez hídrica, ondas de calor extremo e tempestades são exemplos de eventos que demandam medidas para aumentar a resiliência e a segurança do sistema energético”, diz a EPE.
O Brasil, por exemplo, é fortemente influenciado por períodos de estiagem, que demandam estratégias específicas para assegurar o abastecimento energético seguro, mas que afetam a sustentabilidade do sistema por envolverem o acionamento de usinas termelétricas.
3. Investimentos em inovação para a transição energética
É provável que a tecnologia desempenhe um papel fundamental para assegurar uma transição mais suave para uma economia de baixo carbono: por isso, direcionar recursos para esta área aparece como uma das principais tendências em transição energética. O país já está fazendo isso a partir de novas diretrizes de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.
O desafio, porém, é amplo: a maior parte das soluções vistas com potencial ainda está em seu estágio inicial, exigindo que passem por um amadurecimento antes de serem amplamente usadas. É o caso do armazenamento de energia, que será importante para tornar eólicas e solares mais importantes em uma matriz energética segura.
4. Transformação gradual dos sistemas energéticos na direção de economias de baixo carbono
Embora haja forte pressão por essa transição energética – até mesmo pelas metas ousadas propostas pelo país –, essa transformação deve ocorrer de maneira gradual. Isso deve acontecer com a maior inserção de fontes renováveis, o aumento da eletrificação, o protagonismo do consumidor na descentralização de sistemas energéticos e a maior digitalização e automação de produção e gestão de energia.
A digitalização permite maior controle, monitoramento e otimização do sistema energético em tempo real, enquanto a automação contribui para aumentar a eficiência e reduzir perdas em toda a cadeia de valor.
5. Expansão da necessidade de serviços energéticos no Brasil
Isso precisa ser feito superando três desafios muito importantes para o Brasil:
– Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia a todas e todos;
– Expandir e modernizar a infraestrutura e a tecnologia para o fornecimento de serviços de energia;
– O ritmo e a intensidade do crescimento da demanda poderão ser impactados por fatores ainda incertos ligados ao comportamento do consumidor, eficiência energética, eletrificação nos setores de uso final e evolução da renda.
Ou seja, embora se enquadre como uma das principais tendências em transição energética, há, ainda, muitas incertezas que serão solucionadas com o passar do tempo. Isso deve se reverter em uma descentralização do setor elétrico, especialmente com o avanço da geração distribuída.
6. Pressão por uma transição energética socialmente justa e inclusiva
É preciso encarar este desafio também como uma oportunidade, especialmente em um país com realidades tão distintas de norte a sul. Muitas das barreiras da transição energética podem oferecer oportunidade para gerar emprego e renda com potencialidades energéticas locais, atuando em inclusão social, combate à pobreza energética e redução de desigualdades socioeconômicas do país.
Isso pode se reverter em mais qualidade de vida, crescimento econômico e reindustrialização a partir de bases mais sustentáveis.
7. Importância crescente de integração de políticas públicas, governança e financiamento para a transição energética
Será impossível crescer e superar os desafios sem uma coordenação efetiva do poder público: administrações municipais, estaduais e federais devem agir em conjunto para lidar com a expansão das fontes renováveis e com os desafios relacionados aos eventos climáticos extremos, considerando as realidades locais e regionais.
Esse cuidado deve englobar também maior integração entre países da América do Sul. Interconectar sistemas energéticos e compartilhar excedentes entre países vizinhos permite melhor aproveitamento das complementaridades sazonais e tecnológicas, aumentando a segurança energética e reduzindo custos.
O futuro da energia no Brasil
O relatório da EPE mostra que o Brasil tem grandes oportunidades pela frente, mas também enfrenta desafios complexos. A transição energética é um processo dinâmico e contínuo, que exige planejamento estratégico, investimento em inovação, adaptação regulatória e ampla colaboração entre setor público, privado e sociedade.
Ao adotar essas tendências, o país pode garantir um sistema energético mais seguro, limpo, eficiente e competitivo — essencial para o desenvolvimento sustentável nas próximas décadas. Leia o documento completo da EPE (PDF aqui)
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