16/09/2021

Usinas híbridas e associadas surgem como solução para o futuro da geração de energia

Usinas híbridas e associadas surgem como solução para o futuro da geração de energia

Imagem: Gov.br

Aneel pretende regulamentar operações desse tipo para fazer melhor uso da infraestrutura do sistema e reduzir a intermitência dos modais renováveis

Imagine uma usina capaz de produzir energia solar e eólica na mesma planta ou uma hidrelétrica com painéis solares flutuantes, aproveitando a energia do sol. O propósito dessas usinas é aproveitar a infraestrutura do sistema e diminuir a intermitência dos modais renováveis. No primeiro exemplo, a fábrica é capaz de produzir energia durante o dia a partir do sol e usar os ventos noturnos para a energia eólica. No segundo, as placas solares diminuem a necessidade de uso do reservatório ao longo do dia.

Os benefícios são evidentes, ainda mais em um momento como o atual, quando a crise energética se tornou uma das principais preocupações do governo, inclusive com planos para redução voluntária da demanda de energia. Usinas híbridas poderiam se tornar uma solução mais barata do que o acionamento constante das termelétricas.

O debate sobre esse tema foi iniciado em 2019 e, em 2020, foi realizada a Consulta Pública 61. No total, ela gerou 28 contribuições de participantes, considerando geradores, órgãos públicos, universidades, consumidores e consultorias, além da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). As consultas públicas são abertas para discutir temas relevantes do setor, como as bandeiras tarifárias.

A Consulta Pública 61 trata de duas modalidades de usinas: as híbridas e as associadas. Ambas relacionam tecnologias complementares de geração, com compartilhamento físico da infraestrutura de conexão e uso da rede elétrica. A diferença está na outorga: as híbridas são objetos de uma única, enquanto as associadas têm autorizações diferentes.

Na definição da Aneel, o conceito de usina híbrida pressupõe a combinação de “duas ou mais formas de produção de energia ou de potência para prover um serviço de suprimento particular”.

Regulação simples

Em entrevista ao podcast da Aneel, a diretora da entidade e relatora da matéria no órgão, Elisa Bastos, afirma que a missão da entidade é criar um ambiente regulatório livre de amarras para o desenvolvimento de tecnologias que contribuam para o aproveitamento eficiente dos recursos energéticos. De acordo com ela, é preciso superar as vantagens da exploração de cada rede individualmente, com a redução de custos.

“Estamos buscando uma regulação simples e que garanta a liberdade dos investidores na escolha das melhores soluções tecnológicas, sempre tomando o cuidado de evitar a redistribuição de custos da rede e a criação de subsídios cruzados”, afirma Elisa.

Entre as possibilidades que devem ser previstas, estão:

– A contratação de uma faixa de potência dentro da outorga;

– A previsão específica de alguns pontos, como limites de contratação, periodicidade, forma de contratação e estabelecimento da tarifa.

Uma das preocupações da entidade está em não regular os arranjos entre as fontes, deixando a cargo do mercado a escolha das estratégias e os níveis de risco pretendidos.

Sinergia de produção nas usinas híbridas

Especialista em regulação da Aneel, Luiz Rogério Gomes afirma que a produção híbrida encontra complementaridade entre diferentes tecnologias. “Dessa forma, poderia haver uma sinergia no horário de produção”, diz.

Um dos desafios da entidade está em incentivar investidores a propor esse tipo de projeto, que posterga investimentos na expansão de subestações, linhas de transmissão e de distribuição, reduzindo os custos do sistema em um momento particularmente difícil.

“A atual regra de contratação do uso não incentiva o uso otimizado da rede, uma vez que não considera a complementaridade de diferentes fontes de geração e muito menos seus fatores de capacidade. Hoje, as centrais geradoras são obrigadas a declarar a potência instalada, subtraindo sua carga própria, o que pode gerar certa ociosidade da rede”, afirma.

EPE levanta questionamentos sobre usinas híbridas

Em um documento de 2019, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) coloca preocupações em relação às usinas híbridas. Um dos aspectos mencionados é a falta de uma regulamentação específica, o que está sendo discutido pela Aneel na consulta pública.

Mas o documento levanta outras questões para que os benefícios da complementaridade de modais sejam sentidos de fato. Cada planta deve fazer estudos próprios, considerando, ao menos, dois aspectos:

– As características de recursos locais, como o perfil sazonal dos ventos ou incidência solar;

– Dimensionamento das características técnicas de cada usina.

Outro questionamento está na possibilidade de contratação de uma capacidade de uso da rede menor do que a soma das potências individuais. Isso poderia, em determinados momentos, levar ao subaproveitamento de recursos em determinados momentos – como, por exemplo, se a produção eólica e a solar, juntas, ultrapassarem um limite.

A EPE também menciona que as usinas híbridas foram usadas como soluções em ilhas (até mesmo por aproveitar o espaço físico), mas que estão no radar de países com maior território nos últimos anos, caso de Índia, Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e China.

Como essas nações estão em fase experimental de seus projetos, não é possível chegar a uma conclusão definitiva na ponderação entre benefícios e desvantagens baseado apenas nestes projetos. Entretanto, com a dificuldade vivida pelo Brasil nos últimos meses, as usinas híbridas aparecem como solução, especialmente se derem mais segurança ao sistema com um custo menor do que as termelétricas.

Fique por dentro de outras notícias do setor no blog da Solfus.

Whatsapp