Armazenamento de energia entra em discussão no setor
Consulta pública aberta pela Aneel visa discutir alternativas regulatórias para inserir esta capacidade dentro do sistema de geração brasileiro
(Imagem: Unsplash)
Não é segredo que, nos últimos anos, o Brasil viveu um aumento no número de empreendimentos para a geração de energia eólica e solar. Aliás, esta é uma tendência global, que se consolidou ainda mais no pós-pandemia, conforme demonstramos neste artigo do blog.
Apesar desse crescimento, as usinas eólicas sofrem com um impasse chamado de intermitência. Ou seja, ao contrário das hidráulicas e das térmicas, trata-se de um tipo de geração que pode enfrentar momentos de baixa produtividade. Isso é possível mesmo em projetos que considerem boas características para as eólicas, como condição geográfica, altura das pás e escolha de equipamentos adequados.
No entanto, uma consulta pública aberta recentemente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) visa discutir alternativas de regulação sobre sistemas de armazenamento de energia no setor elétrico.
A iniciativa “visa avançar no processo de adaptação regulatória que permita a incorporação de sistemas de armazenamento, incluindo usinas reversíveis, como ferramenta para apoiar a transição energética sustentável”, diz a Aneel.
Em outras palavras, um sistema de armazenamento de energia seria usado de forma complementar em empreendimentos eólicos. Aproveita-se os momentos de maior geração de energia para resguardá-la para os períodos de intermitência, o que resulta em um aumento da segurança no abastecimento energético.
Na definição da Aneel, “os sistemas de armazenamento são equipamentos que conseguem armazenar energia elétrica, proveniente de um gerador ou da rede elétrica, para uso posterior, aumentando dessa forma a confiabilidade e flexibilização da operação”. Isso pode se dar por meio de baterias ou de outras tecnologias já desenvolvidas ou em desenvolvimento.
Esta possibilidade se complementa com o avanço do Marco Legal da Energia Eólica Offshore, ou seja, a geração de energia em alto mar. O Brasil dispõe de excelentes condições para avançar neste setor e o armazenamento tornaria estes projetos ainda mais interessantes.
Como se dará a consulta pública
De acordo com a Aneel, as discussões sobre o armazenamento de energia via consulta pública serão discutidos em três etapas distintas:
– Ciclo um – Trata-se da etapa inicial do processo, que visa caracterizar os recursos necessários e a definição dos serviços. A ideia é entender as principais barreiras regulatórias e como pode se avançar no processo de comercialização deste serviço. Deve durar 18 meses a partir de 2023.
– Ciclo dois – Visa-se aprofundar debates sobre as especificidades dos diferentes modais e sandbox tarifários (diferenciação de tarifas) visando a viabilização econômica. A etapa deve durar 18 meses, sendo finalizada em 2024.
– Ciclo três – Avança-se na discussão, visando agregar vários serviços e ter simuladores para identificar os impactos deste novo modelo de negócio, com potencial de causar disrupção no setor energético. Serão mais 18 meses, com encerramento em 2025.
Segundo a entidade, eventuais avanços podem implicar em uma grande transformação do segmento de energia, que, antes, não vislumbrava a possibilidade do armazenamento de energia para uso no futuro.
Conforme a Aneel, essa possibilidade gera confiança e estabilidade à rede, ainda mais com o forte aporte de recursos nessas modalidades. “Uma das vantagens é favorecer a expansão da geração pelas fontes solar e eólica. Hoje, essas fontes já são as mais baratas e dominantes nas novas contratações, mas elas operam com intermitências e variabilidades diárias imprevisíveis”.
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