Discussão sobre armazenamento de energia avança no setor

Segunda fase da consulta pública aberta pela Aneel visa discutir alternativas regulatórias para inserir esta capacidade dentro do sistema de geração brasileiro, aumentando a segurança dos modais solar e eólico
(Imagem: Unsplash)
Não é segredo que, nos últimos anos, o Brasil viveu um aumento no número de empreendimentos para a geração de energia eólica e solar. Aliás, esta é uma tendência global, que se consolidou ainda mais no pós-pandemia, conforme demonstramos neste artigo do blog.
Apesar desse crescimento, as usinas eólicas e as solares sofrem com um impasse chamado de intermitência. Ou seja, ao contrário das hidráulicas e das térmicas, trata-se de um tipo de geração que pode enfrentar momentos de baixa ou incapacidade total de produzir.
Isso é possível mesmo em projetos que considerem boas características para as eólicas, como condição geográfica, altura das pás e escolha de equipamentos adequados, e no período noturno para as solares.
No entanto, uma consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) discutiu alternativas de regulação sobre sistemas de armazenamento de energia no setor elétrico. Agora, ela está em sua segunda fase, quando recebeu consultas até o fim de janeiro de 2025.
O objetivo? “Avançar no processo de adaptação regulatória que permita a incorporação de sistemas de armazenamento, incluindo usinas reversíveis, como ferramenta para apoiar a transição energética sustentável”.
O que isso significa na prática?
Um relatório recente da Bloomberg mostrou que o Brasil terá que investir US$ 6 trilhões até 2050 para descarbonizar a economia. Para reduzir a aplicação de gás, carvão e combustíveis fósseis, o país deverá avançar no uso das energias solar e eólica — até mesmo pela falta de condições de ampliar as usinas hidrelétricas. Na próxima década, o aporte deve superar os R$ 3 trilhões na expansão energética.
Nesse contexto, sistemas de armazenamento de energia seriam usados de forma complementar em empreendimentos eólicos e solares. Aproveitam-se os momentos de maior geração para resguardá-la para os períodos de intermitência, o que resulta em um aumento da segurança no abastecimento energético e reduz a necessidade de uso de termelétricas, o que ocorre atualmente no país.
Na definição da Aneel, “os sistemas de armazenamento são equipamentos que conseguem armazenar energia elétrica, proveniente de um gerador ou da rede elétrica, para uso posterior, aumentando dessa forma a confiabilidade e flexibilização da operação”. Isso pode se dar por meio de baterias ou de outras tecnologias já desenvolvidas ou em desenvolvimento.
Esta possibilidade se complementa com o avanço do Marco Legal da Energia Eólica Offshore, ou seja, a geração de energia em alto mar. O Brasil dispõe de excelentes condições para avançar neste setor e o armazenamento tornaria estes projetos ainda mais interessantes.
Como se dará a consulta pública
De acordo com a Aneel, as discussões sobre o armazenamento de energia via consulta pública serão discutidos em três etapas distintas:
– Ciclo um – Etapa inicial do processo, que visa caracterizar os recursos necessários e a definição dos serviços. A ideia é entender as principais barreiras regulatórias e como pode se avançar no processo de comercialização deste serviço. Ocorreu em 2023 e 2024.
– Ciclo dois – Aprofundam-se debates sobre as especificidades dos diferentes modais e sandbox tarifários (diferenciação de tarifas) visando a viabilização econômica. É o momento no qual estamos, com o recebimento das propostas.
– Ciclo três – Avança-se na discussão, visando agregar vários serviços e ter simuladores para identificar os impactos deste novo modelo de negócio, com potencial de causar disrupção no setor energético. A estimativa é que esta fase dure outros 18 meses, avançando para os próximos anos.
Segundo a entidade, eventuais avanços podem implicar em uma grande transformação do segmento de energia, que, antes, não vislumbrava a possibilidade do armazenamento de energia para uso no futuro.
Conforme a Aneel, essa possibilidade gera confiança e estabilidade à rede, ainda mais com o forte aporte de recursos nessas modalidades. “Uma das vantagens é favorecer a expansão da geração pelas fontes solar e eólica. Hoje, essas fontes já são as mais baratas e dominantes nas novas contratações, mas elas operam com intermitências e variabilidades diárias imprevisíveis”.
Todas as consultas públicas da Aneel podem ser consultadas aqui.
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